sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

3º ENCONTRO LABORATÓRIO


Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2014.
3º Encontro
 
 



5º ENCONTRO PPIP



Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2014.

5º Encontro
6ª feira -  2 tempos

PPIP

Objetivos:
Apresentar o autorretrato produzido, apontando suas características, relacionando-as ao fazer pedagógico;
Compreender a importância do Contrato Pedagógico;
Realizar leitura sobre sugestões para a elaboração do Contrato.


Desenvolvimento:

Realizamos as apresentações e discutimos algumas características e o fazer pedagógico: relação professor e aluno; aluno enquanto sujeito da aprendizagem; autoridade e autoritarismo; o diálogo; a afetividade e aprendizagem; o desenvolvimento da autonomia, iniciativa, o saber trabalhar em grupo; etc.
Após, realizamos a leitura sobre um dos conceitos do que vem a ser Contrato Pedagógico e sugestões.

Observação:
Semana que vem trazer sugestões para fechamento do contrato.

3º ENCONTRO LABORATÓRIO - Quando a escola é de vidro



Quando a escola é de vidro
Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito

Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.

É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!
O vidro dependia da classe em que a gente estudava.

Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.
Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.
E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano era um horror.
Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.
E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.

Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.
Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, às vezes até batiam no professor.
Ele ficava louco da vida e atarraxava a tampa com força, que era pra não sair mais.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...
As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.
Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se respiravam direito...

A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de Educação Física.
Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.
As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio.
E na aula de Educação Física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinham jeito nenhum para Educação Física.
Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.
E alguns meninos também.
Estes eram os mais tristes de todos.

Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada à toa, uma tristeza!
Se a gente reclamava?
Alguns reclamavam.
E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura.
Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.
Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas.
Ou até coisa pior...

Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
Aí não tinha vidro pra botar esse menino.
Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...

Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.
O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
E os professores não gostavam nada disso...
Afinal, o Firuli poderia ser um mau exemplo pra nós...
E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.
Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.

Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.
Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
Mas Dona Demência não era sopa.
Deu um coque em cada uma e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
Já no outro dia a coisa tinha engrossado.
Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.

Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.
Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:
- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!
A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.
E seu Hermenegildo não conversou mais.
Começou a pegar as meninos um por um e enfiar à força dentro dos vidros.
Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro, já tinha dois fora.
E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.
E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais.
Dona Demência já estava na janela gritando:
- SOCORRO! VÂNDALOS! BÁRBAROS! - para ela bárbaro era xingação.
- Chamem o Bombeiro, o Exército da Salvação, a Polícia Feminina...
Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.
E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.
Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, para o dia seguinte.
Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.

Então diante disso, seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, que dava bem certo e as crianças gostavam muito mais.

E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:
- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...

Seu Hermenegildo não se perturbou:
- Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...

Ruth Rocha

3º ENCONTRO LABORATÓRIO



Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 2014.

3º Encontro

LABORATÓRIOS

Objetivos:

Levantar questões sobre a bagagem cultural, social, emocional e histórica de cada um;
Perceber influências culturais;
Relacionar as influências culturais e buscar através da discussão a origem de algumas influências e paradigmas.

Desenvolvimento:
1º Após a divisão da turma em grupos, iniciamos nosso “boneco”, representando a bagagem cultural do grupo: interesses, ideias, desejos, atividades, valores etc.

2º Depois, os trabalhos foram apresentados e conversamos sobre como foi feita a seleção dos símbolos (marcas de produtos, desenhos etc.) propostos, assim como, palavras. Se houve divergências e por qual motivo ocorreram, caso tenham acontecido, durante a  “composição” do “eu” que nem sempre é só “etiqueta” dependendo das escolhas, mas que de uma forma ou de outra, sua imagem é uma forma de comunicar-se com o mundo, de transmitir uma mensagem, ainda que, não tenha total consciência disso.
Esse ser sócio história, produtor e consumidor, vive em um mundo simbólico, às vezes, distanciado de si mesmo.

3º Realizamos a leitura do texto: Quando a escola é de vidro – Ruth Rocha
A partir do texto, sem trabalhar com conceito, refletimos sobre a inclusão e exclusão em diversos aspectos. Outro ponto importante é o conflito diante do que é diferente, e o quanto, o exemplo, a convivência com o diferente pode ser uma ponte para a reflexão de que a mudança em certos momentos pode ser possível é deve ser discutida e experimentada. Que não somos iguais!
Utilizando a metáfora do vidro descreve a escola em vários aspectos: seriação, o modelo tradicionalista de ensino, os aspectos pedagógicos, mobiliário, programa, a interação e outros.
Demonstra como a escola tradicional se centra na figura do professor, o transmissor do ensinamento. Ao aluno é permitido receber esse ensinamento, sem estímulo para sua formação crítica e questionadora. É o que Paulo Freire chama de educação bancária. No modelo tradicional de ensino não há liberdade para questionamentos. E caso ocorra essa situação, o aluno é visto pelo professor como um mau exemplo para os outros alunos. A disciplina é rígida e com um grande número de regras a serem seguidas e ao menor sinal de transgressão dessas regras, os alunos são punidos severamente.
A escola não leva em conta as diferenças dos seus alunos, sustentando a ideia de que todos são iguais. É fato que essa igualdade esconde a desigualdade real. Cada um aprende de um jeito e em tempos distintos. Mas é muito mais prático para o professor manter essa "igualdade" e a não formação de alunos críticos, pois se eles se moldam de uma mesma forma, a tendência é dar menos trabalho a ele.
Os alunos por sua vez, estão acostumados ao seu vidro, quer dizer, a esse modelo, e ao se virem fora dos vidros, se sentem desconfortáveis com a situação e na maioria das vezes ficam desorientados, não sabendo nem como se comportar.
Outro ponto, é que a partir do momento que um aluno é reprovado, não se respeita o seu crescimento natural e seus interesses que mudam naturalmente com a sua idade. O aluno também fala através de seu corpo.
O vidro também se torna uma barreira entre o professor e o aluno e a relação entre eles não consegue ser espontânea e natural, além de muitas vezes nem poder ser compreendida.
Apesar de todas as críticas dadas ao ensino tradicional, ela continua arraigada na prática escolar.
Pedagogia sem mistérios

Observação: Neste encontro envolvemos os quatro laboratórios.