segunda-feira, 14 de abril de 2014

ATIVIDADE SUGESTÃO - GRAFISMO INDÍGENA

                                                           Grafismo indígena

Mostre desta vez figuras de grafismo indígena, depois proponha a atividade que deve ser previamente preparada.
Faça placas planas e quadradas de argila e utilize como suporte, ofereça palitos ou o cabo de um pincel para as crianças desenharem, depois use tinta guache misturada com água para pintar a placa de argila, deixe secar, se tiver disponibilidade pode levar ao forno






Significado de grafismo em Português

sm. Modo de escrever ou representar as palavras em certa língua. Maneira particular de alguém escrever. Modo peculiar de desenhar ou pintar de um artista. Ação ou resultado de fazer traços sem significado, como preparação para a escrita.


Sites para consulta
 http://www.iande.art.br/boletim010.htm
http://www.blog-se.com.br/blog/conteudo/home.asp?idBlog=11352


 Portal Ciência e Vida
A arte de desenhar na infância

Por meio do grafismo infantil, a criança pode manifestar algumas de suas emoções e revelar como ela interpreta seu entorno e as personagens que o compõe, sobretudo, das pessoas com quem convive diretamente


Se, antigamente, o desenho não tinha qualquer relevância, ou seja, era visto como uma linguagem num sentido mais restrito, atualmente, por meio de pesquisas na área, percebe-se que buscar entender o grafismo infantil é uma forma de entender a própria criança e o seu emocional. Ao analisar o grafismo infantil, o profissional da área passa a compreender melhor a criança, sua vida, seu grupo social e, principalmente, seu emocional. Portanto, ao refletir sobre a importância do desenho, o seu desenvolvimento e a sua interpretação, cabe pensar que a criança é um ser completo e ao tomar posse do papel, ela nos mostra sua realidade e o produto dessa realidade que está repleto de sentimentos.
O termo 'desenho' é a "representação de formas sobre uma superfície, por meio de linhas, pontos e manchas, com objetivo lúdico, artístico, científico, ou técnico. A arte e a técnica de representar, com lápis, pincel, etc., um tema real ou imaginário, expressando a forma". Assim, o desenho, primeira manifestação da escrita humana, continua sendo a primeira forma de expressão usada pela criança.
Por séculos, a criança era vista como uma miniatura do adulto e sua expressão gráfica nunca havia sido valorizada, pois era considerada imperfeita, e inferior a dos adultos. Mas Rousseau (1712-1778) veio dissipar essa ideia, pois considerava a infância uma etapa distinta e importante do desenvolvimento em direção à idade adulta. Segundo Rousseau: "A criança é uma criança, não um adulto". Desta maneira, surge uma nova visão do desenvolvimento da criança, que passa a poder demonstrar seu prazer e interesse em desenhar e expressar o que sente até mesmo que inconscientemente. Seus feitos ganham vivacidade por representar também o que ela conhece em relação ao mundo.
Por meio do desenho livre a criança desenvolve noções de espaço, tempo, quantidade, sequência, apropriando-se do próprio conhecimento, que é construído respeitando seu ritmo. Tendo essa concepção de respeito ao ritmo individual de cada criança que as escolas e creches estão sendo alicerces para estimulá-las no desenhar, pois os profissionais acreditam que essa atividade artística é parte importante tanto para o desenvolvimento infantil, como para o conhecimento dos alunos.


A criança toma posse do conhecimento mediante a sua representação. Seja, no início, por meio de rabiscos até um esquema corporal mais elaborado, cada desenho da criança reflete um estágio de desenvolvimento. E se o desenho revela um estágio do desenvolvimento da criança, o mesmo pode ser dito em relação ao progresso do desenho propriamente dito, pois mediante o crescimento dela, o seu desenho também evolui a olhos vistos. Se, a princípio, a criança apenas experimenta muito mais do que expressa (por volta dos 18 aos 24 meses), o mesmo não acontece à medida em que cresce; pois o desenho ganha um outro aspecto, ou seja, o de não só representar o que para ela significa o real, ao mesmo tempo em que se transforma em um jogo.
O desenho representa, em parte, a mente consciente da criança, mas também é uma forma interessante de fazer uma conexão com o inconsciente. Portanto essa manifestação da criança está repleta de simbolismo e mensagens.
Ao pensar na questão do modelo, percebe-se que a criança ao desenhar, na realidade, está expondo o seu "mundo real" para os demais, como ela o vê e sente. O desenho manifesta o desejo da representação, mas também, antes de tudo, é medo, é opressão, é alegria, é curiosidade, é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um intenso processo vivencial e existencial.

Segundo Ostrower, 1978: "O processo vivencial está diretamente ligado ao processo criativo". A criança sem a apresentação de desenhos estereotipados acaba por apresentar uma visão da realidade mais natural, sem o contágio do social, porém isso acarreta desenhos mais pobres graficamente falando.
Ao perder a inocência no desenho, a criança, na realidade, acaba por adquirir conhecimento. Em contrapartida, ela passa a representar a realidade mais próxima possível da perspectiva adulta. Portanto, o desenho, enquanto linguagem reflete uma postura global. Desenhar não é copiar formas, figuras, não é simplesmente proporção, escala. Desenhar objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se.

"Ao perder a inocência no desenho, a criança, na realidade, acaba por adquirir conhecimento"
Já dizia Luquet (1969) que: "A fase áurea do desenho infantil é o realismo intelectual, ou seja, quando a criança desenha o que ela sabe e conhece do objeto e não o que ela vê". Portanto, o que se pode observar dessa primeira impressão do desenho infantil é que ele muito se assemelha à arte moderna porque nele também está incutido o impulso, a liberdade em mostrar a "realidade íntima do indivíduo, sem se ater a estereótipos". Então, como querer que a criança use símbolos gráficos estipulados pelo adulto, que são as letras, se ela não elaborar sua ideia usando símbolos que ela conhece? Ou seja, utilizando-se do desenho - grafismo infantil.
Desenho da família, por menino disléxico de 7 anos e 10 meses. A figura sem braços é seu permissivo pai. O sexo masculino e o feminino são distinguidos pelos cabelos


Análise mais profunda
Com o objetivo de uma análise mais profunda do grafismo infantil, alguns aspectos devem ser ressaltados para uma exploração melhor do assunto abordado. Para tanto, é necessário evidenciar alguns pontos:
O espaço: quando a criança desenha uma pessoa ou árvore, o desenho pode ser dividido por uma linha transversal imaginária, em uma parte superior e outra inferior e, por uma linha vertical, em um lado esquerdo e outro direito. Existe suporte geral para a interpretação de que pequenas figuras desenhadas perto ou na parte de baixo da folha expressam sentimentos de inadequação, insegurança e mesmo depressão, enquanto os que estão na parte de cima sugerem otimismo, talvez narcisismo e fantasia;
A linha: uma figura desenhada com linhas leves, indecisas e quebradas sinaliza uma criança insegura e deprimida. Ao contrário, uma figura vigorosa, contínua e livremente desenhada, é expressão de autoconfiança e sentimentos de segurança;
O sombreamento: o sombreamento obscurece a figura fundamental na sua totalidade ou em partes específicas. Esta característica é interpretada como uma expressão de ansiedade. Isto ocorre, de fato, nos desenhos de pessoas cuja ansiedade é um elemento saliente em seu comportamento;
A integração: é bastante raro a figura humana ser desenhada de forma desconectada, com as partes do corpo dispersas sobre a folha. Mesmo a figura de girino, com braços e pernas saindo da cabeça, representa uma pessoa completa, cujas partes, apesar de poucas, são aquelas vistas como representação essencial de uma pessoa, em certo estágio particular do desenvolvimento infantil.
Piaget, Vygotsky e o desenho
Para Piaget, as crianças individuais constroem conhecimento por meio de suas próprias ações: entender é inventar. Para Vygotsky, a compreensão perpassa pelo contraste social. Embora Piaget nunca tivesse negado o papel da igualdade social na construção do conhecimento, esboçando, inclusive, que a individualidade e o social são importantes, foi seu sucessor que realmente fundamentou toda a sua teoria no social, ou seja, a criança antes de tudo era um ser social.
 Ainda segundo Piaget, a criança passa por fases do desenvolvimento, sendo cada qual com sua característica, não sendo uma regra, mas um embasamento para entender o desenvolvimento infantil. Os estágios de Piaget colocam a tônica na função intelectual do desenvolvimento. Ele não nega a existência e a importância de outras funções, mas delimita e especifica o campo da sua investigação ao domínio da epistemologia genética. Esses estágios são evoluções sequenciais, tanto motoras quanto intelectuais. Os estímulos auxiliam a essa evolução que proporcionará seu avanço cognitivo. Portanto, se para Piaget o desenvolvimento do cognitivo se dá pelo conhecimento epistemológico, Vygotsky vem complementar a teoria de seu mestre ao valorar o papel do social na evolução da criança e, portanto, no envolvimento de tudo aquilo que a cerca, como o desenho.
Ao pensar nas fases de desenvolvimento de Piaget, pode-se observar que as crianças até dois anos só fazem riscos. Por volta dos três anos, o significado que antes era inexistente, passa a apresentar-se por conta do sentido dos riscos na horizontal, vertical, espirais, círculos, porém a criança ainda não é capaz de nomeá-lo. É só por volta dos quatro anos que a criança começa a perceber o seu desenho e, portanto, projeta nele toda a sua afetividade e sua própria realidade. É neste momento que o seu desenho ganha um status compreensível para o adulto. Nesta fase a criança deixa de lado a sua "inocência" primeva, e passa a ser contagiada por outras realidades que não somente a dela.
 Importância do meio
Vygotsky concebeu a teoria de uma zona de desenvolvimento proximal, que se refere à distância entre desenvolvimento potencial e real. O primeiro nível é tudo aquilo que a criança pode aprender e o segundo é o que ela de fato já aprendeu. Ela aprende por meio da relação social, intermediado por um adulto, que atue como mestre, ensinando e levando suas potencialidades ao campo real. A figura do adulto deve ser preenchida pelos pais e professores.
Assim, o social se abre mais claramente para ela e é também nesta situação que a teoria de Piaget dá lugar para Vygotsky que vem ressaltar esse social, apresentando a criança como um ser social e que, portanto, tudo que está ao redor dela faz parte dessa nova realidade na qual ela sempre esteve inserida, mas que só agora se dá conta.
No ato do desenho, a criança se revela oralmente e isto pode ser utilizado como uma chave para a compreensão do que seu inconsciente pretende revelar. Porém, melhor que a fala, os desenhos expressam por si mesmos delicadezas do intelecto e afetividades, aspectos sutis que são perceptíveis e que estão ao mesmo tempo além do poder ou liberdade condicionada pela comunicação verbal. Assim, se o grafismo infantil é a expressão pessoal da criança, o mesmo pode ser refletido quanto ao significado dado a ele, algo individual e intransponível.
Deve-se levar em consideração também à idade e o nível de desenvolvimento em que a criança se encontra porque esta subdivisão vai refletir a maturidade do grafismo infantil e determinados conhecimentos, o que facilita a análise.
As aparições constantes de determinados símbolos serão de grande auxílio para uma posterior análise, pois a repetição leva o observador a reavaliar o real significado dessas aparições no desenho da criança, podendo ter relação com algo marcante e/ou mesmo traumatizante, ou seja, tentando refletir o obscuro emocional.
Quando observada a fase de desenvolvimento em que a criança se encontra, outros tantos dados são levados em consideração para uma análise mais profunda do seu grafismo infantil, desde a presença e/ou ausência de partes da figura humana até a estrutura de distribuição do desenho no papel que denotam questões importantes sobre a criança e podem ter um significado conceptual ou afetivo.
D esenhado por uma menina de 9 anos. Seu trabalho escolar tem declinado desde a separação de seus pais. O pai a visita. Ela o desenhou como uma figura esmaecida, mas ainda parte de seu grupo familiar. Ele está e não está lá ao mesmo tempo
A criança insegura, entre as idades de 18 e 24 meses, encara a situação de desenhar de forma hesitante, toca o lápis cautelosamente com a ponta dos dedos, eventualmente tendo coragem de apertá-lo, fazendo poucas linhas, minúsculas e parcamente visíveis, num canto da folha. Quando mais velha, a criança insegura desenha a figura humana com linhas pequenas, trêmulas e quebradas, criando uma figura pequena, afastada do centro.

Em contraste, a criança segura revela a alegria de viver numa garatuja arrojada e vigorosa, com pressão forte por todo o comprimento e largura do espaço disponível. Mais tarde, ao desenhar a figura humana, o estar livre de ansiedade sufocante, será expresso no tamanho da figura e na impetuosa e boa pressão da linha, que tende a ser contínua, sendo a figura posicionada no centro da folha e não localizada num canto.
Desenhos representativos começam às vezes entre 3 e 4 anos, com a chance de se descobrir que o que tinha sido mera garatuja pode ser agora feito deliberadamente para simbolizar alguma coisa do mundo visual. Esta coisa pode, provavelmente, ser uma pessoa representada por uma cabeça. Logo, dois pequenos círculos serão os olhos e outro a boca. Não demorará muito antes de linhas brotarem da enorme cabeça e teremos o essencial de uma pessoa reduzida à forma de um girino.
Realismo visual
Como por volta de 7 ou 8 anos, ocorre uma mudança qualitativa e quantitativa, quando "o realismo intelectual" dá lugar ao "realismo visual" (Luquet , 1969). Estes termos expressam, em substância, a metamorfose de um pensamento egocêntrico para uma crescente visão objetiva do mundo.
O lado afetivo revela muito sobre uma criança e para Piaget a afetividade está interligada com a inteligência. Segundo Lauro de Oliveira Lima (apud. Piaget , p. 90): "Para que a inteligência funcione, é preciso um motor que é a afetividade". Ou seja, um não exerce força sem o outro. Esse também é um ponto que explica o porquê das defasagens escolares, o não entendimento e interação na escola. Quando o lado afetivo está comprometido, a criança transparece isso mesmo que sem querer, e isso se torna um auxílio ao educador.



 Figuras empobrecidas, feitas por um menino de 6 anos, que veio de um lar desfeito. No lugar da família, ele desenhou três meninos. Eles estão rodeados por um arco-íris e o sol está brilhando. O desenho apresenta como características: otimismo na adversidade e a importância da união como fonte de segurança

Não existe um fato afetivo sem um componente cognitivo, assim a afetividade se torna uma espécie de temperatura segundo Piaget. Para Lauro de Oliveira (citado por Janet, p. 90): "Inteligência e afetividade são complementares, irredutíveis e indissociáveis". O emocional é a chave para compreender uma criança; como vive, sua personalidade, como se vê enquanto sujeito e como vê os outros.
Ao ressaltar a importância do grafismo infantil buscou-se demonstrar que ele reflete a própria criança. A influência que a sociedade exerce sob a criança determina a sua própria representação gráfica, dependendo do seu contexto e de suas experiências, pois se há um mediador entre o mundo real e o imaginário infantil, esse é o desenho.
Por meio dele, a criança pede, delata, informa tudo o que sente, sabe e vê e essa ferramenta facilita a compreensão de profissionais no que envolve uma criança em questão.
Ao pensar na criança como um ser social, dá-se a oportunidade de pensá-la também à luz da liberdade, por meio da única comunicação que a reflete por inteiro, o desenho. Grafismo infantil que favorece o prazer à criança e se torna um espelho a quem o vê.
Referências
BÉDARD, Nicole. Como interpretar os desenhos das crianças. São Paulo, Isis, 2a ed., 1998.
CAMPOS, Dinah Martrins de Souza. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade: Validade, técnica de aplicação e normas de interpretação. Petrópolis, Vozes, 33a ed., 2000.
COX, Mauren. Desenho da criança; tradução de Evandro Ferreira. São Paulo, Martins Fontes, 2a ed., 2001.

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo, Scipione, 3ª ed., 2003.

DI LEO, Joseph. A interpretação do desenho infantil; tradução de Marlene Neves Strey. Porto Alegre, Artes Médicas, 3a ed., 1991.
KAMII E RHETA, Constance e Devries. Piaget para a educação pré-escolar; tradução de Maria Alice Bade Danesi. Porto Alegre, Artes Médicas, 2º ed., 1992.
LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget: sugestões aos educadores. Petrópolis, Editora Vozes, 2ª ed., 2000.

LUQUET, G.H. O desenho infantil. Porto: Livraria Civilização, 1969.

Kiara Elaine Santos da Silva é bacharel em Pedagogia com Licenciatura plena pela Universidade Camilo Castelo Branco, é Psicopedagoga (Lato Sensu) pela Universidade Camilo Castelo Branco. Atua como professora das séries iniciais do ensino fundamental. kije@ig.com.br
Ida Janete Rodrigues é mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutora em Psicologia pelo Departamento de Psicologia Clínica da USP. Atua como psicóloga, psicopedagoga e professora adjunta da Universidade Paulista. idajanete@hotmail.com
Thiago de Almeida é mestre em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP e atua como Psicólogo clínico, especialista na área do tratamento das dificuldades em relacionamentos. thiagodealmeida@thiagodealmeida.com.br


GRAFISMO INFANTIL UM DESAFIO!

ENTENDENDO O DESENHO INFANTIL


Autora: Thereza Bordoni
Os primeiros estudos sobre a produção gráfica das crianças datam do final do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas e estéticas de então. É a psicologia genética, inspirada pelo evolucionismo e pelo princípio do paralelismo da filogênese com a ontogênese que impõe o estudo científico do desenvolvimento mental da criança (Rioux, 1951).
As concepções de arte que permearam os primeiros estudos estavam calcadas em uma produção estética idealista e naturalista de representação da realidade. Sendo a habilidade técnica, portanto, uma fator prioritário. Foram poucos os pesquisadores que se ocuparam dos aspectos estéticos dos desenhos infantis.
Luquet (1927 - França) fala dos 'erros' e 'imperfeições' do desenho da criança que atribui a 'inabilidade' e 'falta de atenção', além de afirmar que existe uma tendência natural e voluntária da criança para o realismo.
Sully vê o desenho da criança como uma 'arte embrionária' onde não se deve entrever nenhum senso verdadeiramente artístico, porém, ele reconhece que a produção da criança contém um lado original e sugestivo. Sully afirma ainda que as crianças são mais simbolistas do que realistas em seus desenhos (Rioux, 1951).
São os psicólogos portanto, que no final do século XIX descobrem a originalidade dos desenhos infantis e publicam as primeiras 'notas' e 'observações' sobre o assunto. De certa forma eles transpõem para o domínio do grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau sobre a maneira própria de ver e de pensar da criança.
As concepções relativas a infância modificaram-se progressivamente. A descoberta de leis próprias da psique infantil, a demonstração da originalidade de seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificidade desse universo.
A maneira de encarar o desenho infantil evolui paralelamente.
Modo de expressão próprio da criança, o desenho constitui uma língua que possui vocabulário e sua sintaxe. Percebe-se que a criança faz uma relação próxima do desenho e a percepção pelo adulto. Ao prazer do gesto associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca. Os primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimados pelo adulto, possessão simbólica do universo adulto tão estimado pela criança pequena.
Ao final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas ( termo utilizado por Viktor Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela criança).
O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos Essa passagem é possível graças às interações da criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir, transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários ou mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o desenho de formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito simples, ela passa a articulá-los no espaço bidimensional do papel, na areia, na parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimento em suas próprias produções. No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno, passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o que se vê.
É assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos.
O desenho está também intimamente ligado com o desenvolvimento da escrita. Parte atraente do universo adulto, dotada de prestigio por ser "secreta", a escrita exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança, e isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém, mais tarde, quando ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção gráfica, já que a escrita ( considerada mais importante) passa a ser concorrente do desenho.
O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar de registrar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios definem maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças, apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta maneira de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco de cultura para cultura.

 


Luquet Distingue Quatro Estágios:



1- Realismo fortuito: começa por volta dos 2 anos e põe fim ao período chamado rabisco. A criança que começou por traçar signos sem desejo de representação descobre por acaso uma analogia com um objeto e passa a nomear seu desenho.


2- Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.





3- Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos, caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista ( perspectivas ).


4- Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se juntar as produções adultas.



Marthe Berson distingue três estágios do rabisco:


1 - Estágio vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha formando turbilhões.


2 - Estágio representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.


3 - Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma vontade de escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos adultos.


Em Uma Análise Piagetiana, temos:


1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:


• Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um exercício.


• Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).



Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribui nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.

2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".





3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10 anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.


4 - Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras existiram.
5 - Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos em diante)É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico ( expressão subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período. Uma maior conscientização no uso da cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a regra.



E ainda alguns psicólogos e pedagogos, em uma linguagem mais coloquial, utilizam as seguintes referencias:


• De 1 a 3 anos


É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.


• De 3 a 4 anos


Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.


• De 4 a 5 anos


É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.


• De 5 a 6 anos
Os desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.

• De 7 a 8 anos


O realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.


Para tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos interpretar os seus desenhos, devemos porem lembrar que a interpretação de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos conhecimentos.

Referências Bibliográficas
LUQUET, G.H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969.
MALVERN, S.B. "Inventing 'child art': Franz Cizek and modernism" In: British Journal of Aesthetics, 1995, 35(3), p.262-272.
MEREDIEU, F. O desenho Infantil. São Paulo: Cultrix, 1974.
NAVILLE, Pierre. "Elements d'une bibliographie critique". In: Enfance, 1950, n.3-4, p. 310. Parsons, Michael J. Compreender a Arte. Lisboa: Ed. Presença, 1992.
PIAGET, J. A formação dos símbolos na Infância. PUF, 1948
RABELLO, Sylvio. Psicologia do Desenho Infantil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1935.
READ, HEBERT. Educação Através da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1971.
RIOUX, George. Dessin et Structure Mentale. Paris: Presses Universitaires de France, 1951.
ROUMA, George. El Lenguage Gráfico del Niño. Buenos Aires: El Ateneo, 1947.
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Ministério da Educação e do Desporto, secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.





FONTE:http://jardimdaalegria.blogspot.com/

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