Mostre desta vez figuras de grafismo indígena, depois proponha a atividade que deve ser previamente preparada.
Faça placas planas e quadradas de argila e utilize como suporte, ofereça palitos ou o cabo de um pincel para as crianças desenharem, depois use tinta guache misturada com água para pintar a placa de argila, deixe secar, se tiver disponibilidade pode levar ao forno
Significado de grafismo em Português
sm. Modo de escrever ou representar as palavras em certa língua. Maneira particular de alguém escrever. Modo peculiar de desenhar ou pintar de um artista. Ação ou resultado de fazer traços sem significado, como preparação para a escrita.
Sites para consulta
http://www.iande.art.br/boletim010.htmhttp://www.blog-se.com.br/blog/conteudo/home.asp?idBlog=11352
Portal Ciência e Vida
A arte de desenhar na infânciaPor meio do grafismo infantil, a criança pode manifestar algumas de suas emoções e revelar como ela interpreta seu entorno e as personagens que o compõe, sobretudo, das pessoas com quem convive diretamente
Se, antigamente, o desenho não tinha qualquer relevância, ou seja,
era visto como uma linguagem num sentido mais restrito, atualmente, por
meio de pesquisas na área, percebe-se que buscar entender o grafismo
infantil é uma forma de entender a própria criança e o seu emocional. Ao
analisar o grafismo infantil, o profissional da área passa a
compreender melhor a criança, sua vida, seu grupo social e,
principalmente, seu emocional. Portanto, ao refletir sobre a importância
do desenho, o seu desenvolvimento e a sua interpretação, cabe pensar
que a criança é um ser completo e ao tomar posse do papel, ela nos
mostra sua realidade e o produto dessa realidade que está repleto de
sentimentos.
O termo 'desenho' é a "representação de formas sobre uma
superfície, por meio de linhas, pontos e manchas, com objetivo lúdico,
artístico, científico, ou técnico. A arte e a técnica de representar,
com lápis, pincel, etc., um tema real ou imaginário, expressando a
forma". Assim, o desenho, primeira manifestação da escrita humana,
continua sendo a primeira forma de expressão usada pela criança.
Por séculos, a criança era vista como uma miniatura do adulto e
sua expressão gráfica nunca havia sido valorizada, pois era considerada
imperfeita, e inferior a dos adultos. Mas Rousseau (1712-1778) veio
dissipar essa ideia, pois considerava a infância uma etapa distinta e
importante do desenvolvimento em direção à idade adulta. Segundo
Rousseau: "A criança é uma criança, não um adulto". Desta maneira, surge
uma nova visão do desenvolvimento da criança, que passa a poder
demonstrar seu prazer e interesse em desenhar e expressar o que sente
até mesmo que inconscientemente. Seus feitos ganham vivacidade por
representar também o que ela conhece em relação ao mundo.
Por meio do desenho livre a criança desenvolve noções de espaço,
tempo, quantidade, sequência, apropriando-se do próprio conhecimento,
que é construído respeitando seu ritmo. Tendo essa concepção de respeito
ao ritmo individual de cada criança que as escolas e creches estão
sendo alicerces para estimulá-las no desenhar, pois os profissionais
acreditam que essa atividade artística é parte importante tanto para o
desenvolvimento infantil, como para o conhecimento dos alunos.
A criança toma posse do conhecimento mediante a sua representação.
Seja, no início, por meio de rabiscos até um esquema corporal mais
elaborado, cada desenho da criança reflete um estágio de
desenvolvimento. E se o desenho revela um estágio do desenvolvimento da
criança, o mesmo pode ser dito em relação ao progresso do desenho
propriamente dito, pois mediante o crescimento dela, o seu desenho
também evolui a olhos vistos. Se, a princípio, a criança apenas
experimenta muito mais do que expressa (por volta dos 18 aos 24 meses), o
mesmo não acontece à medida em que cresce; pois o desenho ganha um
outro aspecto, ou seja, o de não só representar o que para ela significa
o real, ao mesmo tempo em que se transforma em um jogo.
O desenho representa, em parte, a mente consciente da criança,
mas também é uma forma interessante de fazer uma conexão com o
inconsciente. Portanto essa manifestação da criança está repleta de
simbolismo e mensagens.
Ao pensar na questão do modelo, percebe-se que a criança ao
desenhar, na realidade, está expondo o seu "mundo real" para os demais,
como ela o vê e sente. O desenho manifesta o desejo da representação,
mas também, antes de tudo, é medo, é opressão, é alegria, é curiosidade,
é afirmação, é negação. Ao desenhar, a criança passa por um intenso
processo vivencial e existencial.
Segundo Ostrower, 1978: "O processo vivencial está diretamente ligado
ao processo criativo". A criança sem a apresentação de desenhos
estereotipados acaba por apresentar uma visão da realidade mais natural,
sem o contágio do social, porém isso acarreta desenhos mais pobres
graficamente falando.
Ao perder a inocência no desenho, a criança, na realidade, acaba
por adquirir conhecimento. Em contrapartida, ela passa a representar a
realidade mais próxima possível da perspectiva adulta. Portanto, o
desenho, enquanto linguagem reflete uma postura global. Desenhar não é
copiar formas, figuras, não é simplesmente proporção, escala. Desenhar
objetos, pessoas, situações, animais, emoções, ideias são tentativas de
aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se.
"Ao perder a inocência no desenho, a criança, na realidade, acaba por adquirir conhecimento"
Já dizia Luquet (1969) que: "A fase áurea do desenho infantil é o
realismo intelectual, ou seja, quando a criança desenha o que ela sabe e
conhece do objeto e não o que ela vê". Portanto, o que se pode observar
dessa primeira impressão do desenho infantil é que ele muito se
assemelha à arte moderna porque nele também está incutido o impulso, a
liberdade em mostrar a "realidade íntima do indivíduo, sem se ater a
estereótipos". Então, como querer que a criança use símbolos gráficos
estipulados pelo adulto, que são as letras, se ela não elaborar sua
ideia usando símbolos que ela conhece? Ou seja, utilizando-se do desenho
- grafismo infantil.
Desenho da família, por menino disléxico de 7
anos e 10 meses. A figura sem braços é seu permissivo pai. O sexo
masculino e o feminino são distinguidos pelos cabelos
Análise mais profunda
Com o objetivo de
uma análise mais profunda do grafismo infantil, alguns aspectos devem
ser ressaltados para uma exploração melhor do assunto abordado. Para
tanto, é necessário evidenciar alguns pontos: O espaço: quando a criança desenha uma pessoa ou árvore, o desenho pode ser dividido por uma linha transversal imaginária, em uma parte superior e outra inferior e, por uma linha vertical, em um lado esquerdo e outro direito. Existe suporte geral para a interpretação de que pequenas figuras desenhadas perto ou na parte de baixo da folha expressam sentimentos de inadequação, insegurança e mesmo depressão, enquanto os que estão na parte de cima sugerem otimismo, talvez narcisismo e fantasia; A linha: uma figura desenhada com linhas leves, indecisas e quebradas sinaliza uma criança insegura e deprimida. Ao contrário, uma figura vigorosa, contínua e livremente desenhada, é expressão de autoconfiança e sentimentos de segurança; O sombreamento: o sombreamento obscurece a figura fundamental na sua totalidade ou em partes específicas. Esta característica é interpretada como uma expressão de ansiedade. Isto ocorre, de fato, nos desenhos de pessoas cuja ansiedade é um elemento saliente em seu comportamento; A integração: é bastante raro a figura humana ser desenhada de forma desconectada, com as partes do corpo dispersas sobre a folha. Mesmo a figura de girino, com braços e pernas saindo da cabeça, representa uma pessoa completa, cujas partes, apesar de poucas, são aquelas vistas como representação essencial de uma pessoa, em certo estágio particular do desenvolvimento infantil. |
Piaget, Vygotsky e o desenho
Para Piaget, as crianças individuais constroem conhecimento por meio de suas próprias ações: entender é inventar. Para Vygotsky, a compreensão perpassa pelo contraste social. Embora Piaget nunca tivesse negado o papel da igualdade social na construção do conhecimento, esboçando, inclusive, que a individualidade e o social são importantes, foi seu sucessor que realmente fundamentou toda a sua teoria no social, ou seja, a criança antes de tudo era um ser social.
Para Piaget, as crianças individuais constroem conhecimento por meio de suas próprias ações: entender é inventar. Para Vygotsky, a compreensão perpassa pelo contraste social. Embora Piaget nunca tivesse negado o papel da igualdade social na construção do conhecimento, esboçando, inclusive, que a individualidade e o social são importantes, foi seu sucessor que realmente fundamentou toda a sua teoria no social, ou seja, a criança antes de tudo era um ser social.
Ainda segundo Piaget, a criança passa por fases do desenvolvimento,
sendo cada qual com sua característica, não sendo uma regra, mas um
embasamento para entender o desenvolvimento infantil. Os estágios de
Piaget colocam a tônica na função intelectual do desenvolvimento. Ele
não nega a existência e a importância de outras funções, mas delimita e
especifica o campo da sua investigação ao domínio da epistemologia
genética. Esses estágios são evoluções sequenciais, tanto motoras quanto
intelectuais. Os estímulos auxiliam a essa evolução que proporcionará
seu avanço cognitivo. Portanto, se para Piaget o desenvolvimento do
cognitivo se dá pelo conhecimento epistemológico, Vygotsky vem
complementar a teoria de seu mestre ao valorar o papel do social na
evolução da criança e, portanto, no envolvimento de tudo aquilo que a
cerca, como o desenho.
Ao pensar nas fases de desenvolvimento de Piaget, pode-se
observar que as crianças até dois anos só fazem riscos. Por volta dos
três anos, o significado que antes era inexistente, passa a
apresentar-se por conta do sentido dos riscos na horizontal, vertical,
espirais, círculos, porém a criança ainda não é capaz de nomeá-lo. É só
por volta dos quatro anos que a criança começa a perceber o seu desenho
e, portanto, projeta nele toda a sua afetividade e sua própria
realidade. É neste momento que o seu desenho ganha um status
compreensível para o adulto. Nesta fase a criança deixa de lado a sua
"inocência" primeva, e passa a ser contagiada por outras realidades que
não somente a dela.
Importância do meio
Vygotsky concebeu a teoria de uma zona de desenvolvimento proximal, que se refere à distância entre desenvolvimento potencial e real. O primeiro nível é tudo aquilo que a criança pode aprender e o segundo é o que ela de fato já aprendeu. Ela aprende por meio da relação social, intermediado por um adulto, que atue como mestre, ensinando e levando suas potencialidades ao campo real. A figura do adulto deve ser preenchida pelos pais e professores.
Vygotsky concebeu a teoria de uma zona de desenvolvimento proximal, que se refere à distância entre desenvolvimento potencial e real. O primeiro nível é tudo aquilo que a criança pode aprender e o segundo é o que ela de fato já aprendeu. Ela aprende por meio da relação social, intermediado por um adulto, que atue como mestre, ensinando e levando suas potencialidades ao campo real. A figura do adulto deve ser preenchida pelos pais e professores.
Assim, o social se abre mais claramente para ela e é também nesta
situação que a teoria de Piaget dá lugar para Vygotsky que vem ressaltar
esse social, apresentando a criança como um ser social e que, portanto,
tudo que está ao redor dela faz parte dessa nova realidade na qual ela
sempre esteve inserida, mas que só agora se dá conta.
No ato do desenho, a criança se revela oralmente e isto pode ser
utilizado como uma chave para a compreensão do que seu inconsciente
pretende revelar. Porém, melhor que a fala, os desenhos expressam por si
mesmos delicadezas do intelecto e afetividades, aspectos sutis que são
perceptíveis e que estão ao mesmo tempo além do poder ou liberdade
condicionada pela comunicação verbal. Assim, se o grafismo infantil é a
expressão pessoal da criança, o mesmo pode ser refletido quanto ao
significado dado a ele, algo individual e intransponível.
Deve-se levar em consideração também à idade e o nível de
desenvolvimento em que a criança se encontra porque esta subdivisão vai
refletir a maturidade do grafismo infantil e determinados conhecimentos,
o que facilita a análise.
As aparições constantes de determinados símbolos serão de grande
auxílio para uma posterior análise, pois a repetição leva o observador a
reavaliar o real significado dessas aparições no desenho da criança,
podendo ter relação com algo marcante e/ou mesmo traumatizante, ou seja,
tentando refletir o obscuro emocional.
Quando observada a fase de desenvolvimento em que a criança se
encontra, outros tantos dados são levados em consideração para uma
análise mais profunda do seu grafismo infantil, desde a presença e/ou
ausência de partes da figura humana até a estrutura de distribuição do
desenho no papel que denotam questões importantes sobre a criança e
podem ter um significado conceptual ou afetivo.
D esenhado por uma menina de 9 anos. Seu trabalho
escolar tem declinado desde a separação de seus pais. O pai a visita.
Ela o desenhou como uma figura esmaecida, mas ainda parte de seu grupo
familiar. Ele está e não está lá ao mesmo tempo
A criança insegura, entre as idades de 18 e 24 meses, encara a
situação de desenhar de forma hesitante, toca o lápis cautelosamente com
a ponta dos dedos, eventualmente tendo coragem de apertá-lo, fazendo
poucas linhas, minúsculas e parcamente visíveis, num canto da folha.
Quando mais velha, a criança insegura desenha a figura humana com linhas
pequenas, trêmulas e quebradas, criando uma figura pequena, afastada do
centro.
Em contraste, a criança segura revela a alegria de viver numa garatuja arrojada e vigorosa, com pressão forte por todo o comprimento e largura do espaço disponível. Mais tarde, ao desenhar a figura humana, o estar livre de ansiedade sufocante, será expresso no tamanho da figura e na impetuosa e boa pressão da linha, que tende a ser contínua, sendo a figura posicionada no centro da folha e não localizada num canto.
Em contraste, a criança segura revela a alegria de viver numa garatuja arrojada e vigorosa, com pressão forte por todo o comprimento e largura do espaço disponível. Mais tarde, ao desenhar a figura humana, o estar livre de ansiedade sufocante, será expresso no tamanho da figura e na impetuosa e boa pressão da linha, que tende a ser contínua, sendo a figura posicionada no centro da folha e não localizada num canto.
Desenhos representativos começam às vezes entre 3 e 4 anos, com a
chance de se descobrir que o que tinha sido mera garatuja pode ser
agora feito deliberadamente para simbolizar alguma coisa do mundo
visual. Esta coisa pode, provavelmente, ser uma pessoa representada por
uma cabeça. Logo, dois pequenos círculos serão os olhos e outro a boca.
Não demorará muito antes de linhas brotarem da enorme cabeça e teremos o
essencial de uma pessoa reduzida à forma de um girino.
Realismo visual
Como por volta de 7 ou 8 anos, ocorre uma mudança qualitativa e quantitativa, quando "o realismo intelectual" dá lugar ao "realismo visual" (Luquet , 1969). Estes termos expressam, em substância, a metamorfose de um pensamento egocêntrico para uma crescente visão objetiva do mundo.
Como por volta de 7 ou 8 anos, ocorre uma mudança qualitativa e quantitativa, quando "o realismo intelectual" dá lugar ao "realismo visual" (Luquet , 1969). Estes termos expressam, em substância, a metamorfose de um pensamento egocêntrico para uma crescente visão objetiva do mundo.
O lado afetivo revela muito sobre uma criança e para Piaget a
afetividade está interligada com a inteligência. Segundo Lauro de
Oliveira Lima (apud. Piaget , p. 90): "Para que a inteligência funcione,
é preciso um motor que é a afetividade". Ou seja, um não exerce força
sem o outro. Esse também é um ponto que explica o porquê das defasagens
escolares, o não entendimento e interação na escola. Quando o lado
afetivo está comprometido, a criança transparece isso mesmo que sem
querer, e isso se torna um auxílio ao educador.
Figuras empobrecidas, feitas por um menino de 6
anos, que veio de um lar desfeito. No lugar da família, ele desenhou
três meninos. Eles estão rodeados por um arco-íris e o sol está
brilhando. O desenho apresenta como características: otimismo na
adversidade e a importância da união como fonte de segurança
Não existe um fato afetivo sem um componente cognitivo, assim a
afetividade se torna uma espécie de temperatura segundo Piaget. Para
Lauro de Oliveira (citado por Janet, p. 90): "Inteligência e afetividade
são complementares, irredutíveis e indissociáveis". O emocional é a
chave para compreender uma criança; como vive, sua personalidade, como
se vê enquanto sujeito e como vê os outros.
Ao ressaltar a importância do grafismo infantil buscou-se
demonstrar que ele reflete a própria criança. A influência que a
sociedade exerce sob a criança determina a sua própria representação
gráfica, dependendo do seu contexto e de suas experiências, pois se há
um mediador entre o mundo real e o imaginário infantil, esse é o
desenho.
Por meio dele, a criança pede, delata, informa tudo o que sente,
sabe e vê e essa ferramenta facilita a compreensão de profissionais no
que envolve uma criança em questão.
Ao pensar na criança como um ser social, dá-se a oportunidade de
pensá-la também à luz da liberdade, por meio da única comunicação que a
reflete por inteiro, o desenho. Grafismo infantil que favorece o prazer à
criança e se torna um espelho a quem o vê.
Referências
BÉDARD, Nicole. Como interpretar os desenhos das crianças. São Paulo, Isis, 2a ed., 1998. CAMPOS, Dinah Martrins de Souza. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade: Validade, técnica de aplicação e normas de interpretação. Petrópolis, Vozes, 33a ed., 2000. COX, Mauren. Desenho da criança; tradução de Evandro Ferreira. São Paulo, Martins Fontes, 2a ed., 2001. DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo, Scipione, 3ª ed., 2003. DI LEO, Joseph. A interpretação do desenho infantil; tradução de Marlene Neves Strey. Porto Alegre, Artes Médicas, 3a ed., 1991. KAMII E RHETA, Constance e Devries. Piaget para a educação pré-escolar; tradução de Maria Alice Bade Danesi. Porto Alegre, Artes Médicas, 2º ed., 1992. LIMA, Lauro de Oliveira. Piaget: sugestões aos educadores. Petrópolis, Editora Vozes, 2ª ed., 2000. LUQUET, G.H. O desenho infantil. Porto: Livraria Civilização, 1969. |
Kiara
Elaine Santos da Silva é bacharel em Pedagogia com Licenciatura plena
pela Universidade Camilo Castelo Branco, é Psicopedagoga (Lato Sensu)
pela Universidade Camilo Castelo Branco. Atua como professora das séries
iniciais do ensino fundamental. kije@ig.com.br
Ida Janete Rodrigues é
mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie e doutora em Psicologia pelo Departamento de Psicologia
Clínica da USP. Atua como psicóloga, psicopedagoga e professora adjunta
da Universidade Paulista. idajanete@hotmail.com
Thiago de Almeida é
mestre em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP e
atua como Psicólogo clínico, especialista na área do tratamento das
dificuldades em relacionamentos. thiagodealmeida@thiagodealmeida.com.br
GRAFISMO INFANTIL UM DESAFIO!
ENTENDENDO O DESENHO INFANTIL
Autora: Thereza Bordoni
Os
primeiros estudos sobre a produção gráfica das crianças datam do final
do século passado e estão fundados nas concepções psicológicas e
estéticas de então. É a psicologia genética, inspirada pelo
evolucionismo e pelo princípio do paralelismo da filogênese com a
ontogênese que impõe o estudo científico do desenvolvimento mental da
criança (Rioux, 1951).
As
concepções de arte que permearam os primeiros estudos estavam calcadas
em uma produção estética idealista e naturalista de representação da
realidade. Sendo a habilidade técnica, portanto, uma fator prioritário.
Foram poucos os pesquisadores que se ocuparam dos aspectos estéticos dos
desenhos infantis.
Luquet
(1927 - França) fala dos 'erros' e 'imperfeições' do desenho da criança
que atribui a 'inabilidade' e 'falta de atenção', além de afirmar que
existe uma tendência natural e voluntária da criança para o realismo.
Sully
vê o desenho da criança como uma 'arte embrionária' onde não se deve
entrever nenhum senso verdadeiramente artístico, porém, ele reconhece
que a produção da criança contém um lado original e sugestivo. Sully
afirma ainda que as crianças são mais simbolistas do que realistas em
seus desenhos (Rioux, 1951).
São
os psicólogos portanto, que no final do século XIX descobrem a
originalidade dos desenhos infantis e publicam as primeiras 'notas' e
'observações' sobre o assunto. De certa forma eles transpõem para o
domínio do grafismo a descoberta fundamental de Jean Jacques Rousseau
sobre a maneira própria de ver e de pensar da criança.
As
concepções relativas a infância modificaram-se progressivamente. A
descoberta de leis próprias da psique infantil, a demonstração da
originalidade de seu desenvolvimento, levaram a admitir a especificidade
desse universo.
A maneira de encarar o desenho infantil evolui paralelamente.
Modo
de expressão próprio da criança, o desenho constitui uma língua que
possui vocabulário e sua sintaxe. Percebe-se que a criança faz uma
relação próxima do desenho e a percepção pelo adulto. Ao prazer do gesto
associa-se o prazer da inscrição, a satisfação de deixar a sua marca.
Os primeiros rabiscos são quase sempre efetuados sobre livros e folhas
aparentemente estimados pelo adulto, possessão simbólica do universo
adulto tão estimado pela criança pequena.
Ao
final do seu primeiro ano de vida, a criança já é capaz de manter
ritmos regulares e produzir seus primeiros traços gráficos, fase
conhecida como dos rabiscos ou garatujas ( termo utilizado por Viktor
Lowenfeld para nomear os rabiscos produzidos pela criança).
O
desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas
que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da
garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os
primeiros símbolos Essa passagem é possível graças às interações da
criança com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na
garatuja, a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma
ação sobre uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos
visuais que essa ação produziu. No decorrer do tempo, as garatujas, que
refletiam sobretudo o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir,
transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação, e
podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários ou
mesmo a outros desenhos. Na evolução da garatuja para o desenho de
formas mais estruturadas, a criança desenvolve a intenção de elaborar
imagens no fazer artístico. Começando com símbolos muito simples, ela
passa a articulá-los no espaço bidimensional do papel, na areia, na
parede ou em qualquer outra superfície. Passa também a constatar a
regularidade nos desenhos presentes no meio ambiente e nos trabalhos aos
quais ela tem acesso, incorporando esse conhecimento em suas próprias
produções. No início, a criança trabalha sobre a hipótese de que o
desenho serve para imprimir tudo o que ela sabe sobre o mundo. No
decorrer da simbolização, a criança incorpora progressivamente
regularidades ou códigos de representação das imagens do entorno,
passando a considerar a hipótese de que o desenho serve para imprimir o
que se vê.
É
assim que, por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente
formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e
sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas
de outras crianças e adultos.
O
desenho está também intimamente ligado com o desenvolvimento da
escrita. Parte atraente do universo adulto, dotada de prestigio por ser
"secreta", a escrita exerce uma verdadeira fascinação sobre a criança, e
isso bem antes de ela própria poder traçar verdadeiros signos. Muito
cedo ela tenta imitar a escrita dos adultos. Porém, mais tarde, quando
ingressa na escola verifica-se uma diminuição da produção gráfica, já
que a escrita ( considerada mais importante) passa a ser concorrente do
desenho.
O
desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de
falar de registrar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada
estágio, o desenho assume um caráter próprio. Estes estágios definem
maneiras de desenhar que são bastante similares em todas as crianças,
apesar das diferenças individuais de temperamento e sensibilidade. Esta
maneira de desenhar própria de cada idade varia, inclusive, muito pouco
de cultura para cultura.
Luquet Distingue Quatro Estágios:
2-
Realismo fracassado: Geralmente entre 3 e 4 anos tendo descoberto a
identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma.
3-
Realismo intelectual: estendendo-se dos 4 aos 10-12 anos,
caracteriza-se pelo fato que a criança desenha do objeto não aquilo que
vê, mas aquilo que sabe. Nesta fase ela mistura diversos pontos de vista
( perspectivas ).
4-
Realismo visual: É geralmente por volta dos 12 anos, marcado pela
descoberta da perspectiva e a submissa às suas leis, daí um
empobrecimento, um enxugamento progressivo do grafismo que tende a se
juntar as produções adultas.
1
- Estágio vegetativo motor: por volta dos 18 meses, o traçado e mais ou
menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da folha
formando turbilhões.
2
- Estágio representativo: entre dois e 3 anos, caracteriza-se pelo
aparecimento de formas isoladas, a criança passa do traço continuo para o
traço descontinuo, pode haver comentário verbal do desenho.
3
- Estágio comunicativo: começa entre 3 e 4 anos, se traduz por uma
vontade de escrever e de comunicar-se com outros. Traçado em forma de
dentes de serra, que procura reproduzir a escrita dos adultos.
Em Uma Análise Piagetiana, temos:
1
- Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da
fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer
nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira
imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo
contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:
•
Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Com relação a expressão,
vemos a imitação "eu imito, porém não represento". Ainda é um
exercício.
•
Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação
viso-motora. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, pois
aqui existe a exploração do traçado; interesse pelas formas (Diagrama).
2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana, torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3
- Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas (7 a 10
anos).Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição
flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do
esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço:
linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém
aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou
mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor;
cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por
experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou
jogo dramático e a regra.
4
- Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no
final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica
pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a
linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As
formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das
roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de
cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como
no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras
existiram.
5
- Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas (10 anos
em diante)É o fim da arte como atividade expontânea. Inicia a
investigação de sua própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de
tendência: visual (realismo, objetividade); háptico ( expressão
subjetividade) No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação
com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as
características sexuais são exageradas, presença das articulações e
proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão,
também fazem parte deste período. Uma maior conscientização no uso da
cor, podendo ser objetiva ou subjetiva. A expressão aparece como: "eu
represento e você vê" Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a
regra.
• De 1 a 3 anos
É
a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de
controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo
para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras
garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando
circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam
soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os
primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.
• De 3 a 4 anos
Já
conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo.
Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser
capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços,
pescoço e tronco.
• De 4 a 5 anos
É
uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens,
casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das
cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de
novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos
no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha.
Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar
características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com
olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.
• De 5 a 6 anos
Os
desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As
figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a
detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver
com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar
histórias sobre o mundo.
• De 7 a 8 anos
O
realismo é a marca desta fase, em que surge também a noção de
perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de
profundidade e distância. Extremamente exigentes, muitas deixam de
desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.
Para
tentarmos entender melhor o universo infantil muitas vezes buscamos
interpretar os seus desenhos, devemos porem lembrar que a interpretação
de um desenho isolada do contexto em que foi elaborado não faz sentido.
É
aconselhável, ao professor, que ofereça às crianças o contato com
diferentes tipos de desenhos e obras de artes, que elas façam a leitura
de suas produções e escutem a de outros e também que sugira a criança
desenhar a partir de observações diversas (cenas, objetos, pessoas) para
que possamos ajudá-la a nutrisse de informações e enriquecer o seu
grafismo. Assim elas poderão reformular suas idéias e construir novos
conhecimentos.
Referências Bibliográficas
LUQUET, G.H. Arte Infantil. Lisboa: Companhia Editora do Minho, 1969.
MALVERN, S.B. "Inventing 'child art': Franz Cizek and modernism" In: British Journal of Aesthetics, 1995, 35(3), p.262-272.
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REFERENCIAL
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do Desporto, secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF,
1998. 3v.
FONTE:http://jardimdaalegria.blogspot.com/
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